A cirurgia bariátrica é considerada hoje a forma mais eficaz de tratamento em pacientes com obesidade grau III (IMC maior que 40 kg/m ²) e em pacientes com obesidade grau II (IMC maior que 35 kg/m ² )que tenham comorbidades associadas. Atualmente, a indicação para cirurgia live nessas situações, após comprovada a falha no tratamento clínico, com seguimento especializado por endocrinologista por um ano. Existem diversos estudos comprovando os benefícios em controle e até mesmo remissão do diabetes, bem como redução da mortalidade por todas as causas, como visto no estudo SOS, o mais clássico sobre o tema.
Na literatura, no entanto, há uma escassez sobre dados a longo prazo comparando diferentes técnicas cirúrgicas. Estudos como o STAMPEDE demonstraram um benefício no controle do diabetes (DM) sustentado em cinco anos após a cirurgia, comparado aos controles não operados e mantidos em tratamento clínico. Com base na escassez de estudos e com objetivo de avaliar desfechos comparando as técnicas mais comumente utilizadas, foi publicado na revista JAMA o SLEEVEPASS, um follow up de dez anos feito a partir de um ensaio clínico randomizado (RCT) avaliando o efeito do sleeve comparado ao bypass gástrico na perda de peso e comorbidades.
O estudo
O estudo envolveu 240 pacientes entre 18 e 60 anos (média de idade de 48,4 anos), com IMC médio de 44,6 kg/m ², sendo 69,6% mulheres, randomizados na Finlândia. O trial inicial foi conduzido entre 2008 e 2010, com seguimento até janeiro de2021 Os objetivos do estudo foram avaliar o percentual de perda do excesso de peso e avaliar o impacto da perda de peso nas comorbidades, bem como surgimento de refluxo e consequências em dez anos. Deles, 228 participantes completaram o seguimento (85%).
Um dos objetivos do estudo foi avaliar o percentual de perda do excesso de peso. Esta é uma das medidas comumente utilizadas em estudos para se definir sucesso ou não de um procedimento de cirurgia bariátrica, geralmente objetivando uma perda de 50% do excesso de peso. O excesso de peso é definido comoo o peso além do calculado para um IMC de 25 kg/m ² (Ex: se um paciente tem 1,70 m e pesa 122,25 kg, seu peso para um IMC de 25 seria de 72,25 kg. Logo design, seu excesso de peso seria de 50 kg (122,25– 72,25). Caso o paciente perca 25 kg, terá atingido uma perda de 50% do excesso de peso).
Resultados
Após dez anos, os pacientes do estudo submetidos ao sleeve atingiram uma perda de excesso de peso de 43,5% e 50,7% após o bypass, com vantagem para o último– diferença de 8,4% (3,1– 13,6; IC 95%). A qualidade de vida apresentou melhora em ambos os grupos, sem diferença entre si. Quanto às comorbidades:
- Remissão de diabetes: 26% no Sleeve vs. 33% no bypass (sem diferença entre grupos; p = 0,063)
Vale destacar que ambos os grupos apresentaram um resultado considerável, comparável ao STAMPEDE, onde a remissão de diabetes após cinco anos de cirurgia atingiu 23% no sleeve e 29% no Bypass– apesar de ser uma população diferente, esse dado pode sugerir que exista uma tendência a remissão sustentada do diabetes em alguns pacientes.
- Remissão de hipertensão (HAS): remarkable no grupo bypass– 24% vs 8% (p = 0,04);-LRB-
- Remissão de dislipidemia (DLP): 35% no bypass e 19% no sleeve, sem diferença estatística (p = 0,23);-LRB-
- Remissão de Apneia do sono (SAOS): 31% no bypass e 16% (p = 0,30) no sleeve.
Além do benefício maior em HAS e na diferença de perda do excesso de peso no grupo bypass, também houve menor incidência de esofagite comparado ao grupo Sleeve (31% no grupo bypass vs 7% no grupo sleeve; P < < 0,001), porém sem diferença na prevalência de esôfago de Barret (4% em ambos os grupos).
Cirurgia bariátrica: Efeitos