As artropatias inflamatórias constituem um grupo de doenças cujo acometimento articular se associa com níveis significativos de inflamação, capazes de levar a deformidades e limitação funcional rapidamente progressivas. Dessa forma, o tratamento precoce e agressivo dessas condições é desejável, visando um melhor controle do processo inflamatório e uma redução/prevenção na progressão do dano estrutural.
No entanto, no início do quadro (denominado artrite inicial) ou naqueles menos exuberantes, o reumatologista pode enfrentar dificuldades para identificar a inflamação no exame físico. Dessa maneira, a diferenciação com causas degenerativas e a detecção de padrões de acometimento articular podem ser comprometidos, reduzindo a acurácia diagnóstica. Ademais, os estudos simples de radiografia no início do quadro podem ser normais, o que reduz a sensibilidade e o valor preditivo negativo desses testes.
Dessa forma, a ultrassonografia point-of-care pode ser um valioso complemento ao exame físico, permitindo um diagnóstico mais precoce. Kaeley et al. publicaram recentemente um artigo na Arthritis Research & Therapy, no qual fizeram uma ampla revisão do uso da ultrassonografia para a identificação e diferenciação de pacientes com artrite inicial.
Proposta de abordagem geral
Inicialmente, o paciente com quadro de dor articular, rigidez matinal e edema articular de início recente deve passar por uma avaliação clínica, composta por entrevista médica e exame físico. Caso o médico não seja capaz de determinar um padrão específico de acometimento ou uma hipótese de diagnóstico etiológico mais provável, o paciente deve ser considerado como artrite indiferenciada e proceder o estudo ultrassonográfico.
Caso exista um diagnóstico etiológico mais provável, porém não confirmado ou duvidoso, avaliações de locais específicos mais comumente acometidos naquela condição podem ser realizadas.
Regiões que devem ser priorizadas, por diagnóstico etiológico
Algumas regiões são mais frequentemente acometidas em determinadas doenças, e essa informação pode ser útil na avaliação inicial do seu paciente. Normalmente essas regiões fazem parte de protocolos mínimos de avaliação para cada contexto específico. São elas:
- Artrite reumatoide: articulações metacarpofalangianas, interfalangianas proximais, punhos e V metatarsofalagianas.
- Espondiloartrites: articulações metacarpofalangianas, interfalangianas proximais, interfalangianas distais, punhos, V metatarsofalagianas e grandes ênteses.
- Polimialgia reumática: ombros bilateralmente, quadris bilateralmente, metacarpofalangianas, interfalangianas proximais e punhos.
- Artrites microcristalinas: articulação sentinela (sintomática ou com mais crises), cartilagem distal do fêmur bilateralmente, ligamento patelar bilateralmente, ligamento colateral medial bilateralmente, I metatarsofalangiana bilateralmente, punhos (em especial fibrocartilagem triangular do carpo).
Principais alterações sonográficas para cada etiologia
Ao avaliar os sítios acima referidos, algumas alterações sonográficas (sonopatologias) podem sugerir diagnósticos específicos. São elas:
Artrite reumatoide: sinovite, tenossinovite, proliferação/pannus, hiperemia (sinal ao Doppler) e erosões (corticais, predominando em áreas nuas das articulações).
- Espondiloartrites: edema de partes moles, paratendinite, entesite (hipoecogenicidade e espessamento ou calcificação de tendões/ligamentos → grande